sábado, 27 de setembro de 2008

A INFLUÊNCIA DO FUTEBOL NA POLÍTICA

Felipi Frossard

Em plena Copa de 70, e no apogeu da ditadura, o governo Médici tentou se apropriar do futebol na tentativa de similar o esporte ao regime militar e aumentar o prestígio do país a nível internacional.
Médici talvez tenha sido o último a tentar fazer esta ligação direta, em que apoiar a seleção brasileira significava apoiar seu governo, no momento em que o Brasil se consagrava como o maior vencedor em Copas do Mundo. Hinos como o "Para Frente Brasil" e lemas como "Ninguém segura este país" e "Brasil: ame-o ou deixe-o" são significativos deste tipo de nacionalismo, cujos críticos do regime militar tinham bastante dificuldade em lidar. Em termos gerais, poderíamos dizer que nesta época o futebol já tinha se tornado uma forma de manipulação em massa.
A ditadura se encarregou também de aparelhar a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e criar estruturas administrativas para controlar o esporte no país. O Campeonato Brasileiro começou a ser organizado em 1971, chegando a ter em 1979, 94 clubes participantes. Remonta a esta época também a construção de grandes estádios pelo interior, em particular no Centro-Oeste e no Nordeste."Onde a Arena vai mal, mais um clube no nacional. E onde a Arena vai bem, mais um clube também", este se tornou um lema marcante desta política dos governos militares, que se utilizaram do esporte para garantir o poder da Arena, partido de sustentação do regime.
Por fim, ao longo da década de 70 se consolida também a imagem do Brasil como uma referência no terceiro-mundo de modelo de desenvolvimento nacional, participação ativa nos fóruns internacionais e solidariedade com os países subdesenvolvidos. O futebol ajudou a afirmar esta identidade, principalmente na África e no Oriente Médio, com os clubes que excursionavam pelo mundo em busca do dinheiro dos petrodólares e também através da contratação de profissionais brasileiros de renome para treinar suas equipes nacionais. O próprio Carlos Alberto Parreira, ex-técnico da seleção brasileira, treinou as equipes de Gana, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait entre os anos 60 e 80. O exemplo do futebol brasileiro como um agente na construção da identidade nacional parecia agradar as lideranças destes países, a grande maioria das ditaduras e de independência recente.
Enfim, o futebol brasileiro também serve como um certo “Missionário da Paz”, assim como acontece no Haiti.
Em harmonia com o último objetivo do governo de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A indicação por esta organização de uma chefia brasileira pode ser interpretada como uma demorada e cuidadosa estratégia política da diplomacia do Brasil, buscando colocar o país como uma potência regional capaz de arcar com os custos e responsabilidades da governança global. Haja vista a grande reputação dos jogadores brasileiros e do selecionado nacional no mundo inteiro - vários deles são embaixadores das Nações Unidas, como Ronaldo e Kaká - se pressupôs que eles teriam uma boa aceitação no país. Assim sendo, a presença de jogadores como Ronaldo Nazário, Adriano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, demonstraria humildade, respeito e comprometimento para com o povo e a causa dos haitianos.

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